Falando sobre tudo

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

João Nery parte 1






Matéria com João W. Nery em Revista O Globo (out. 2010)

Em 17 de outubro de 2010 por Revista O Globo.

Dois cafés e a conta... ...com João W. Nery

Na hora em que disse ao pai que queria ser piloto, Joana ouviu: “Aeromoça é uma péssima profissão”. “Não conseguia entender porque me tratavam como menina”, disse em seu livro, “Erro de pessoa”, publicado em 1984. Com seu pseudônimo João W. Nery, contava como se tornou em 1977, aos 27 anos, a primeira mulher a virar homem no Brasil. Narrava a luta contra um corpo que lhe foi “imposto sem pedir licença”. Tinha o espelho como inimigo, era chamado Maria-homem, queria brigar e não a levavam a sério, tornou-se campeã brasileira de saltos ornamentais, para desenvolver os músculos, tentou meditação e vivia curvada para esconder o peito. Agora, escreveu “Acerto de pessoa”, que foi enviado para as editoras Record e Global. Nele, atualiza o primeiro livro e fala da paternidade. Está no quarto casamento, que já dura 14 anos. Adotou como seu Yuri, hoje com 23 anos, filho de uma ex-mulher. João já fez um pouco de tudo: é psicólogo, sexólogo, deu aula em quatro universidades, pintou parede, teve confecção, vendeu brincos, trabalhou em usina de asfalto, foi taxista, lavrador, massoterapeuta, professor de computação, vendedor da Avon. No prefácio de “Erro de pessoa”, Antônio Houaiss dizia: “Leiam e humanizem-se.” É a melhor definição para uma história que tem tudo para virar filme.
Revista O Globo: Por que virar homem?João W. Nery:   Não é uma opção.     Desde os 3, 4 anos, já me sentia menino.   As roupas e os papéis sociais  atribuídos  a  meninas  não  batiam comigo.      Sempre  consertava  mentalmente  quando  me chamavam de ele. Diziam-me: “Quando fizer 12 anos vai virar mocinha.” Queria ser Peter Pan para não crescer nunca, não monstruar.   A infância era um álibi.   Veio a adolescência, e eu esmurrava os seios, tentando empurrá-los para dentro.   Dava socos e cabeçadas na parede.     Não enlouqueci porque tive família  de  classe média  estruturada.   Mas  a  discriminação  foi  enorme.  Uma  grande  amiga  cortou relações: “Não tenho condições de te chamar de João”.

Revista O Globo: Como foi a operação para virar homem?

João W. Nery: À época, eram ilegais. O cirurgião plástico que me operou primeiro, Roberto Farina, era famoso, mas dizia que não podia ficar insensível a um problema tão sério. Fiz duas operações. A primeira, de retirada dos seios e feitura de uma nova uretra. Foi uma glória ir à praia de sunga. A segunda, com outro médico, de retirada dos órgãos genitais internos. Parei de menstruar e produzir estrogênio. Entrei na menopausa aos 27 anos. Depois, tomando testosterona, vieram a voz grossa, a musculatura, a barba, os pelos, a careca. Mas desisti da faloplastia (cirurgia de reconstrução do pênis) porque Farina teria que parar de operar. Ele havia sido condenado (depois absolvido) por mutilação por ter operado um homem que virou mulher. E mostrou-me filmes americanos. É uma sangueira, são nove cirurgias, o resultado é ruim.

Revista O Globo: Um dos agradecimentos do livro é a Darcy Ribeiro... João W. Nery: Conheci Darcy quando meu pai estava exilado no Uruguai. Eu tinha 15 anos. Ele falava palavrão e lá em casa não se falava nem “frescura”. “Você tem que perder o medo das palavras. Enquanto não perder, vai ter medo de você mesmo”, dizia. Virou meu mentor intelectual. Apresentava-me como sua filha e me falava: “Tudo é possível”. 
Revista O Globo: O que mudou de 1977, quando você operou, para cá?
João W. Nery: Hoje é permitido e você opera de graça pelo SUS. Mas continua uma burocracia enorme. São dois anos para avaliar se você é transexual. E em relação à documentação ficamos à mercê da interpretação do juiz. Deveria ser automático: operou mudou de nome. Tenho dupla identidade. Com os documentos antigos, estou fazendo mestrado em psicologia. Pelos novos, só tenho o primeiro grau, porque fiz depois supletivo. Perdi todo o currículo e o histórico escolar. E o preconceito continua. Não me assumo publicamente por causa do trabalho da minha mulher, para não constranger meu filho, porque minha sogra não sabe. Não posso perder a consciência e parar numa enfermaria. Vai ser um escândalo. Tenho moto há 40 anos e estou sempre de prontidão.


Revista O Globo: Como está sendo a chegada da velhice?
João W. Nery: Botei prótese (não sexual) no quadril. E estou cheio de artroses. Nenhum médico é capaz de explicá-las, se é a testosterona, a coluna que foi retificada, os saltos ornamentais. Sou uma cobaia da ciência, não há casos estudados para saber o que acontecerá comigo. Mas sou para cima. Chego aos 60 completamente bem porque chego homem. E livro de câncer de próstata, como o que afetou meu pai (tem 92 anos, lúcido)... E com um filho, meu acerto. Ele já deu uma olhada no livro, que é um ato de amor a ele. É um homem feminino sem ser afeminado. Diz: “Pai, me acho tão feminino de perto de certas mulheres. São fanáticas por futebol, tomam decisões, querem ficar, e eu, namorar.”

Extraído do site: http://ftmbrasil.blogspot.com

2 comentários:

Unknown disse...

Obrigado pela divulgação

Você já leu meu livro que acaba de receber o segundo prêmio?
https://www.facebook.com/pages/Viagem-Solit%C3%A1ria/205100982907932
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Viagem Solitária
Escritor. Autor do livro Viagem Solitária - Memórias de um transexual 30 anos

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Blog: João W. Nery
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bjs

ATIVA ROMANTICA disse...

Boa Noite, João Nery, fiquei feliz ao ve-lo por aqui. Obrigado. Não li , ainda, mas vou fazer o pedido em breve. Vlw sua visita. abraços

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