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domingo, 15 de julho de 2012

Com quem fica a guarda?



Ex-casal de lésbicas disputa a guarda do filho na Justiça em São Paulo




Uma polêmica dos tempos modernos: um casal de lésbicas tem um filho: uma doou o óvulo, e a outra engravidou. Agora, elas se separaram. Com quem fica a criança?


O que a Justiça determina quando as mulheres envolvidas formam um casal? Em São Paulo, duas lésbicas, que tiveram um filho juntas, agora brigam pela guarda da criança. Afinal, quem é a mãe nesse caso? 


O quarto decorado, os brinquedos: tudo na casa lembra uma criança, fruto de uma relação entre duas mulheres. O casamento delas durou oito anos. No terceiro ano em que elas estavam juntas, decidiram ter um filho. 

Fantástico: Qual acordo vocês fizeram? 
Mulher: Eu entraria com o óvulo, com o material genético, e ela gestaria essa criança. E seria o nosso filho, o filho de ambas. 
Fantástico: Vocês pensaram naquele momento que um dia vocês poderiam se separar? 
Mulher: A partir do momento da gestação, a gente já ia entrar com pedido de registro de dupla maternidade. Coisa que não existia na época ainda. 
Fantástico: Vocês chegaram a fazer esse pedido? 
Mulher: Não, porque, quando a gestação se tornou real, ela mudou de ideia. Ela dizia que achava que ele seria descriminado, que ele sofreria preconceito na rua, e que por isso ela não queria mais fazer a dupla maternidade. 

Ao nascer, o bebê foi registrado com o nome da mãe que deu a luz e o pai desconhecido. 

Fantástico: Depois que o filho nasceu, quanto tempo depois vocês se separaram? 
Mulher: Três anos depois. E passei a ter dificuldade de vê-lo. Não deixava eu chegar até o apartamento. Ela não deixava, ela não atendia o telefone. Eu ia até o prédio onde eles moravam, tocava a campainha e ela não abria a porta. 
Fantástico: O que ela alega para não te deixar ver a criança? 
Mulher: Ela olha para mim e fala: ‘Você não está entendendo o que está acontecendo. Você é só uma visita dele. Você não é nada dele'. 
Fantástico: O que você quer hoje? 
Mulher: Hoje eu quero a reversão de guarda. Hoje, eu quero ele para mim. 

Nós tentamos falar com a ex-companheira dela, mas ela não quis dar entrevista. 

Fantástico: O que a lei diz objetivamente hoje sobre a situação das duas? Da que é dona do óvulo e da que é dona da barriga? 
Patricia Panisa, advogada: A lei não diz. Especificamente para o caso dela, a lei não diz. 
Fantástico: Não existe nada na lei. 
Patricia Panisa, advogada: Especificamente, não. 
Fantástico: O que falta na verdade é a lei se adequar à essas novas famílias que estão se formando? Homoafetivas? 
Patricia Panisa, advogada: Falta regulamentação específica. Mas ausência de regulamentação específica não é impedimento para que se reconheça hoje, já. 

“Nós não temos nada na nossa legislação brasileira que fale sobre a reprodução assistida. Só tem mesmo a nossa resolução que ela atua exclusivamente eticamente e não juridicamente”, afirma Hiran Galo, coordenador de Reprodução Assistida do Conselho Federal de Medicina. 

Cada vez mais essas novas famílias vêm se formando, e a discussão sobre quem é a mãe, se é a dona do óvulo ou a dona da barriga, já está até na novela. Na trama de “Fina Estampa”, a médica Danielle usa um óvulo doado por Beatriz para gerar o filho de Ester. 

O assunto divide a opinião dos telespectadores e até próprias atrizes. “Eu acho que a Vitória tem que ficar com a Bia. Eu acho não, eu tenho certeza. O fato de você ser mãe biológica, os códigos genéticos são seus”, declara a Monique Alfradique. 

“Dou toda a razão para ela, mas também dou toda a razão para a Ester, que não tem nada a ver com isso. Ela pagou aquele tratamento, ela quis aquele filho, e aquilo é dela”, defende Júlia Lemmertz. 

No caso da novela, o destino da criança está nas mãos do autor, Aguinaldo Silva. “Eu queria discutir exatamente essa coisa de como a família vai se transformando às custas do progresso da ciência, mas continua sendo a mesma família de sempre”, diz o autor. 

Na vida real, hoje, vários casais homoafetivos disputam na Justiça a guarda de crianças. 

Fantástico: Qual é a orientação que você daria para mulheres que vivem hoje essa mesma situação? 
Patricia Panisa, advogada: Teve a criança? Já promove a ação, a ação para reconhecer a dupla maternidade. 

Foi o que fez um casal de mulheres com seus filhos gêmeos. Eduardo e da Ana Kalil Tito são filhos de Munira Kalil e Adriana Tito e têm duas certidões de nascimento. 

Fantástico: Todo mundo no primeiro momento estranha? 
Munira Khalil, mãe: Para começar no cartório, na hora de registrar as crianças, o pessoal falou 'nossa, vou pedir até um dia para vocês para gente poder mudar o sistema aqui, porque está pai e mãe'. 
Adriana Tito, mãe: Ou então quando estão as duas, perguntam ‘quem é a mãe?’ As duas. ‘A mãe que está na certidão?’ As duas. ‘E a mãe de barriga?’. Então, fui eu. Mas ela é mãe de óvulo 
Munira Khalil, mãe: O ovulo é meu. 

Fantástico: Quantas vezes vocês ouviram não da Justiça para a dupla maternidade? 
Adriana: Cinco vezes. 
Fantástico: Alegando? 
Adriana: Alegaram muitos absurdos para falar a verdade. Aí no dia 3 de janeiro de 2011, a gente recebe a ligação: ‘o juiz julgou, ganhamos’. Era advogada chorando, a gente chorando, todo mundo chorando. Parece que as pessoas estão mais sensíveis a essa relação, a essas famílias diferentes. 
Fantástico: Isso foi muito importante para vocês? 
Munira: Muito demais. 
Adriana: É muito importante. 

Fantástico: Quem é realmente a mãe, de direito? Quem gera ou quem doou o óvulo? 
Adriana: Acho que a mãe que gerou, porque ela ficou nove meses com a criança na barriga. Ela amamentou, passou todas as dores do parto. E também sem o óvulo não acontece nada disso. 
Fantástico: Munira, você concorda com ela? 
Munira: Vi que nessa eu rodei. Algo que a gente vai pensar agora. Mas nunca ia tirar dela. E acho que ela também nunca faria isso comigo. 
Adriana: Nunca, jamais. 
Fantástico: Pelos filhos? 
Adriana: Pelos filhos e pela vida que nós temos. O respeito é acima de tudo. Filhos são para sempre. 

O caso de Munira e Adriana foi o primeiro naJustiça e abriu precedente para outros casais também conseguirem a dupla maternidade. 




Fantástico: Você quer lutar pelo direito de ser mãe? 
Mulher: Eu quero ser mãe. Eu já sou mãe nos cuidados. Agora, eu quero ser mãe legal, legítima. Eu quero exercer esse direito legalmente, porque ele tem orgulho de mim, e eu quero meu filho junto comigo.



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