Falando sobre tudo

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domingo, 14 de abril de 2013

Stendhal I





A Alma Transforma-se em Sensações

Stendhal, in "Do Amor"

Eis um efeito que me será contestado,
e que só apresento aos homens que,
digamos, são bastante infelizes para
terem amado com paixão durante
longos anos, dum amor contrariado
 por obstáculos invencíveis: 

A vista de tudo o que é extremamente
 belo, tanto na natureza como nas artes,
traz-nos a recordação do que amamos,
 com a rapidez de um relâmpago.

É que, pelo processo do ramo de árvore
guarnecido de diamantes da mina de
 Salzburgo, tudo o que no mundo é belo
E  sublime faz parte da beleza do que
 amamos, e esta visão imprevista da
felicidade enche-nos os olhos de lágrimas
num instante. É assim que o amor do belo
e o amor se dão vida um ao outro. 
Uma das infelicidades da vida é que a
ventura de ver a quem amamos e de lhe
 falar não deixa recordações distintas.
Aparentemente, a alma está demasiado
 perturbada pelas suas emoções para poder
prestar atenção ao que as causa ou as
 acompanha. Transforma-se na própria
sensação. É talvez porque estes prazeres não
 se podem renovar sempre que queremos,
 por simples força de vontade, que se renovam
com tanta força, desde que um objecto qualque
r nos venha tirar da meditação consagrada à
mulher que amamos, e lembrar-no-la mais
vivamente por meio de uma nova sugestão
 (o perfume dela, por exemplo). 

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